Maria Aparecida Ferrari é autora da segunda parte do livro “Relações Públicas: teoria, contexto e relacionamentos”, escrito em conjunto com Fábio França e James E. Grunig. Ao tratar do cenário latino-americano da Comunicação e Relações Públicas, a autora contextualiza a falta de um conceito e definição da profissão, que há muito tempo dificulta a sua legitimação, e afirma que a solução está na produção de estudos e teorias locais, uma vez que os profissionais apóiam-se, na maioria das vezes, em autores estrangeiros.
Uma crítica semelhante é feita por Ibarra (2008, p.227), quando afirma que “a situação é dramática se apreciamos a escassa produção de ideias originais na América Latina. Não há, até o momento, nem grandes contribuições teóricas nem análises históricas significativas que examinem os problemas organizacionais da região”.
A justificativa para esse problema encontra-se no fato de que entre 1930 e 1950, período de industrialização, muitas multinacionais instalaram-se na América Latina e trouxeram consigo as estruturas organizacionais de suas sedes, ou seja, impuseram a presença do profissional de relações públicas, fazendo com que a influência norte-americana, seguida da européia, fosse predominante. “O início da prática na América Latina abriu espaço para que profissionais dos mais diversos ramos do conhecimento, como advogados, engenheiros e administradores, atuassem como relações-públicas das empresas que estavam se instalando na região” (FERRARI, 2008, p. 176).
Ao entrar no mérito brasileiro, Ferrari associa o amadurecimento e desenvolvimento da profissão no país à instalação do curso universitário, na década de 1960 – ano da criação da FIARP – Federação Interamericana de Associações de Relações Públicas, que durante as duas décadas seguintes dedicou-se ao processo de institucionalização do ensino universitário na América Latina.
De 1960 a 1980, no período chamado de “anos de chumbo”, devido às ditaduras militares em vários países, o cenário das relações públicas se alterou, uma vez que a falta de liberdade de expressão e o controle de todo o sistema de informação reduziu a prática da profissão. “No Brasil, os militares controlaram todo o sistema de comunicação do país mediante a criação de leis e decretos com o aparente propósito de proteger o exercício das atividades de comunicação”.
Ao todo, foram mais de vinte leis, decretos e decretos-leis assinados entre 1967 e 1978 com o objetivo de “disciplinar” o jornalismo, as relações públicas, a propaganda e a publicidade, o rádio, a televisão, o radioamadorismo, a Telebrás, o livro, a Embrafilme, o Concine, o teatro e toda e qualquer forma de expressão (Teixeira, 2002, p. 28).
Em 11 de dezembro de 1967, o governo criou a lei 5.377, que disciplinou o exercício profissional das relações públicas. “O propósito era de defini-la em função de quem faz o quê, com o objetivo claro de controlar quem faz” (FERRARI, 2009, p. 180). Foi o primeiro país do mundo a adotar legislação específica para o exercício da profissão. No mesmo ano, a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo instituiu o primeiro curso superior de Relações Públicas, com duração de quatro anos, o que distanciou o Brasil dos demais países latino americanos, trazendo a vantagem do ensino sistematizado, criando condições para oferecer parâmetros ao mercado. Entretanto, o decreto “engessou a atividade criando um rígido sistema de controle de seu exercício por meio da fiscalização dos Conselhos Regionais” (FERRARI, 2009, p. 181). O resultado foi, então, um distanciamento entre mercado e academia, já que a oferta de profissionais havia diminuído com a obrigatoriedade de um curso acadêmico. Para driblar a situação desfavorável, as empresas começaram a alterar a nomenclatura de “relações públicas” para outras denominações, como: Assuntos Corporativos, Comunicação Social, Comunicações, Assuntos Públicos, com o objetivo de facilitar a contratação de profissionais de outras áreas, burlando a fiscalização do Sistema Conferp – Conselho Federal de Relações Públicas, o que é, provavelmente, a causa histórica de um grande problema da profissão: muitos outros profissionais desenvolvendo funções e ocupando lugares de relações-públicas.
Por fim, conclui-se a influência negativa da ditadura militar, que impediu o desenvolvimento da atividade. “Na maioria dos países, a prática se restringiu a atividades relacionadas a cerimonial e protocolo, organização de eventos, produção e implantação de instrumentos de comunicação organizacional e manutenção do relacionamento com a mídia, desde que dentro dos parâmetros estabelecidos pela censura” (FERRARI, 2009, p 185), outro fator histórico que explica a atual imagem distorcida e a criação do estereótipo mais famoso da profissão.
Bruna Carolina Garcia Nogueira
FERRARI, Maria Aparecida. Relações Públicas: teoria, contexto e relacionamentos. São Caetano do Sul: Difusão Editora. 2009. p. 175 – 185.
Nenhum comentário:
Postar um comentário