Nesse artigo, Rudimar Baldissera e Marlene Sólio fazem uma reflexão sobre o processo histórico das Relações Públicas, abrangendo o período que vai de 1875 até os dias atuais, à luz dos contextos político, econômico, social e cultural que permearam as atividades da profissão no Brasil e no mundo. Os autores fundamentam seus estudos nas teorias da administração e da comunicação, além de propor novos aportes teóricos para a área de Relações Públicas alicerçada no paradigma da complexidade.
A construção do pensamento no artigo dos autores se dá inicialmente por uma retrospectiva histórica da profissão e posteriormente, a proposição de uma nova abordagem para as Relações Públicas. Ao decorrer de suas análises, os autores procuram mostrar que o cenário mundial atual não é mais o mesmo vigente no início da profissão com Ivy Lee, e por isso, é preciso tecer uma releitura das noções de Comunicação e Relações Públicas.
A primeira década do século XX é marcada por alguns fatores que impulsionaram a atividade profissional das Relações Públicas, entre eles, o fortalecimento dos Estados Unidos como uma potência capitalista, após a Guerra de Secessão. Como desdobramento desse período desenvolvimentista, as organizações passaram a se valer da exploração de seus funcionários para atingir maiores lucros, ao mesmo tempo em que cresceram também as reivindicações trabalhistas. Isso fez com que, aumentasse a preocupação dos empresários frente a opinião pública, utilizando das Relações Públicas como instrumento para “neutralizar opiniões contrárias”
Essa noção das Relações Públicas relegada ao capital perdura pelas décadas seguintes, apoiadas na teoria da administração que fundamentava o fazer das Relações Públicas, como uma “estratégia para manter os níveis de lucratividade e poder das organizações.
No início da década 50, no Brasil, as Relações Públicas ainda se limitavam a poucas atividades e com um caráter essencialmente informativo. Foi a partir da segunda metade desta década, que a atividade começou a se profissionalizar, com a criação da Associação Brasileira de Relações Públicas em 1954. Essa transformação esteve ligada ao governo desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, que fomentou o crescimento da empresas.
Em 1967, durante a ditadura militar foi criado o primeiro curso de Relações Públicas no Brasil, pela Universidade de São Paulo. Nesse período houve um exponencial aumento de investimento na área de publicidade e da comunicação, uma vez que o objetivo do regime militar era propagar idéias ligadas ao chamado Milagre Econômico.
As décadas seguintes foram marcadas por profundas mudanças nas organizações: passaram pela transnacionalização, pelos processos de fusão e avanço tecnológico, que refletiram na estrutura sócio-econômica da sociedade. Os sujeitos sociais se tornaram mais consciente da realidade em que estavam inseridos e por conseqüência começaram a exigir mudança de posicionamento das organizações.
Nesse contexto, não é mais possível compreender as Relações Públicas como conceito de simples técnica de relacionamento, manipulação e conquista de visibilidade. Baldissera e Marlene Sólio, à luz dos referenciais teóricos elaborados por Edgar Morin, propõem uma releitura do fazer/pensar das Relações Públicas norteada pelo paradigma da complexidade. Pensando assim, a comunicação deve ser entendida como um processo de “construção e disputa de sentidos”, no qual os sujeitos são, ao mesmo tempo, produtor e produto de seus pensamentos e ações. As Relações Públicas devem ser assim pensadas, como uma filosofia que norteia a existência de uma organização em relação com os diferentes públicos, criando espaços dialógicos com a sociedade.
Jamile Coutrim Dalri
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